A Opção pelos Pobres é opção pelos "injustiçados".
O conceito "pobres", como parte da expressão "opção pelos pobres", causou certa confusão. De fato, se a opção é "pelos pobres", explica-se que sobrevenha a tentação de situar na "pobreza" o fundamento de tal opção, seja identificando falsamente pobreza com santidade (o que se evitou desde o princípio), ou re-elaborando metaforicamente o conceito de "pobreza" em diferentes direções, ou derivando-o em direção a qualquer um dos grupos que no Antigo Testamento parecem ser objeto de uma "preferência" por parte de Deus (os "fracos e pequenos"…), ou por outros muitos caminhos.
Poder-se-á evitar estes desvios trazendo-se à luz o papel teológico que o conceito de "pobres" tem concretamente na expressão "opção pelos pobres". Teologicamente falando, "pobres" significa aí exatamente "injustiçados". Porque Deus não opta pelos pobres porque sejam pobres (material e/ou economicamente), mas sim porque são "injustiçados". A pobreza econômica não é por si mesma uma categoria teológica; o é a injustiça, que pode dar-se nessa pobreza econômica. Teologicamente considerada, a "opção pelos pobres" é na realidade "opção pelos injustiçados". Se é chamada opção "pelos pobres", isso se deve a que, quo ad nos, os pobres (econômicos) são o analogatum princeps da injustiça e sua expressão máxima ou por antonomásia.
Falando com precisão teológica, os destinatários desta Opção pelos Pobres não podem ser identificados sem mais como os "pobres econômicos" por si mesmos, nem com os "pobres que são bons", nem com os que são "pobres em algum sentido", ou os que têm "espírito de pobres"... (delimitações todas elas muito flexíveis, escorregadias, por causa dos jogos metafóricos da linguagem), mas sim com os "injustiçados", sejam pobres econômicos ou não, metafóricos ou não.
Ao contrário, os "pequenos e os fracos", ou seja, todos aqueles cuja "pobreza" não pode ser medida em termos de injustiça, não devem ser identificados pura e simplesmente como destinatários da Opção pelos Pobres, e sim por extensão metafórica. Podem ser objeto de uma "ternura especial" e gratuita por parte de Deus e nossa, mas este sentimento e esta atitude não devem ser confundidas com a Opção pelos Pobres.
Toda problemática humana que possa ser convertida em injustiça - mesmo que não tenha que ver com a "pobreza" em sentido literal ou econômico - é objeto da Opção pelos Pobres (porque esta é opção pela justiça). Assim, a discriminação étnica, de gênero, cultural… como formas de injustiça que são, e ainda que não se dêem juntamente com situações de pobreza econômica, são objeto da Opção pelos Pobres. Não o são por serem formas de pobreza - o que elas de fato não são -, mas sim por serem formas de injustiça.
A opção pela cultura desprezada, pela raça marginalizada, pelo gênero oprimido… não são opções diferentes da Opção pelos Pobres, mas sim concretizações diversas da única "opção pelos injustiçados", a qual chamamos de Opção pelos Pobres. (José María Vigil).
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