Quando a realidade parece ficção é hora de fazer documentário!

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Companhia das Filhas da Caridade

1.1. Um pouco de história

A Companhia das Filhas da Caridade foi fundada em 1633, por São Vicente de Paulo (São Vicente de Paulo nasceu no dia 24 de abril de 1581 e morreu em Paris no dia 27 de setembro de 1660) e Santa Luísa de Marillac (Santa Luísa de Marillac nasceu no dia 12 de agosto de 1591 e morreu no dia 15 de março de 1660) em Paris, na França.


As primeiras Caridades ou Confrarias da Caridade foram organizadas por São Vicente de Paulo, em 1617 na Paróquia de Châtillon-les Dombes, França. Eram compostas de mulheres, de meios relativamente modestos, que desejavam dedicar-se ao serviço dos pobres e dos doentes de suas aldeias ou paróquias.

Quando estas Confrarias da Caridade atingiram Paris, as senhoras da nobreza ou da alta burguesia também se engajaram, seduzidas pelo zelo e pelo entusiasmo apostólico do Pe. Vicente de Paulo.
Mas suas obrigações familiares e sua posição social tornavam difíceis os serviços humildes, nas casas dos Pobres, e algumas se sentiram na obrigação de descarregar o fardo sobre suas domésticas; estas o assumiam, a maior parte das vezes, bem constrangidas e não agiam com Caridade.


Foi então que Margarida Naseau se apresentou ao Pe. Vicente de Paulo. Ela o conheceu por ocasião de uma missão em sua paróquia. Desejava servir os Pobres, gratuitamente, por amor de Deus. Inteligente e corajosa, foi colocada ao serviço da Confraria de São Nicolau de Chardonnet, em Paris, e, dentro em pouco, foi seguida por outras jovens, na maior parte, saídas igualmente do meio rural.

A partir de 1630, Pe. Vicente de Paulo as confiou a Luísa de Marillac, que o auxiliava na organização e na visita das Confrarias criadas por ele e por seus primeiros Coirmãos, lá onde se faziam as Missões.
Essas jovens estavam, no entanto, dispersas em Paris, cada uma a serviço de uma Confraria diferente; rapidamente, Luísa de Marillac percebeu a necessidade de agrupá-las, a fim de formá-las e acompanhá-las melhor em seu serviço, tanto corporal quanto espiritualmente.
Após muitas reflexões, obteve a autorização do Pe. Vicente de Paulo e, aos 29 de novembro de 1633, recebia, em sua casa, as seis primeiras “Filhas” da Caridade.

Esta data assinala “a ata de nascimento” da Companhia das “Filhas da Caridade”. Era uma novidade na Igreja daquele tempo, que não admitia que as religiosas saíssem dos claustros.
Para salvaguardar o serviço dos Pobres, Pe. Vicente lhes recomendava sempre que fossem boas cristãs, prometendo a Deus servi-lo fielmente, nos Pobres. As Filhas da Caridade não são, pois, religiosas, no sentido canônico do termo, mas são consagradas a Jesus Cristo para o serviço aos Pobres (Texto preparado pela Companhia das Filhas da Caridade).

Na fundação das Filhas da Caridade há uma estreita ligação entre São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac. Luísa de Marillac, ela mesma, relata:
“No dia de Pentecostes (Festa de Pentecostes celebrada no dia 4 de junho de 1623), participando da Missa e fazendo oração na igreja, de repente, fui esclarecida de minhas dúvidas e avisada de que deveria permanecer com meu marido e de que viria o dia em que estaria em condições de fazer voto de pobreza, de castidade e obediência, numa pequena comunidade, com pessoas que fariam o mesmo. Entendi, então, que isso seria num lugar dedicado a servir ao próximo; não podia, porém, compreender de que jeito se faria isso, porque, haveria idas e vindas” (Escritos de Santa Luísa de Marillac, nº 3).

Este é um trecho do relato de Santa Luísa, que se encontra guardado até hoje, sobre a Luz de Pentecostes, experiência espiritual feita por ela quando ainda estava casada e na qual recebeu a inspiração do que viria a ser a Companhia das Filhas da Caridade, 10 anos depois.
Nesta época, Santa Luísa ainda não conhecia São Vicente de Paulo. O encontro dos dois se dá aproximadamente em 1625, quando Luísa de Marillac já está viúva e Vicente de Paulo já é conhecido pelo seu serviço aos Pobres, tendo, para isso, fundado a Congregação da Missão e as Confrarias das Caridades.

A
antipatia surgida no primeiro encontro, originada por realidades individuais e sociais tão diferentes, vai sendo superada. Vicente de Paulo descobre em Luísa de Marillac uma mulher de oração, em busca da vontade de Deus, disposta a se sacrificar e se doar por inteiro aos Pobres.
Já Luísa descobre em Vicente um homem bom e generoso, que, a partir da leitura dos acontecimentos e da oração, percebe o apelo de Deus para servir os Pobres.

Juntos e consagrados a Deus, começam a trabalhar na organização e animação das Confrarias da Caridade. Inicialmente, as primeiras Irmãs trabalhavam nas paróquias, servindo os Pobres em suas próprias casas (cfr: Ir. Carolina Mureb Santos, Filha da Caridade, Boletim da Família Vicentina, Secretariado Regional de São Paulo, Nº 08 - julho de 2000, pág. 2-3). Há um trecho de uma Conferência proferida por São Vicente de Paulo no qual traça o perfil das Filhas da Caridade. Ele pedia às Filhas da Caridade que percorressem as periferias e visitassem os barracos. Deviam ser consagradas sem hábito e ir a todo lugar sem véu e sem votos solenes.

Dizia:
“Terão por mosteiro as casas dos doentes e aquela em que reside a superiora; por cela, um quarto de aluguel; por capela, a igreja da paróquia; por claustro, as ruas da cidade; por clausura, a obediência, não devendo ir senão às casas dos doentes ou aos lugares necessários para o serviço deles; por grade, o temor de Deus; por véu, senão a santa modéstia” (Conferência de 24 de agosto de 1659. SV X, 661).

Assim, São Vicente de Paulo deixava muito claro para as Irmãs que elas não eram religiosas, uma vez que ser religiosa naquela época significava manter-se na clausura. Não havia nenhuma congregação religiosa feminina cujas Irmãs “andassem pelas ruas” servindo os Pobres ou que tivessem esta possibilidade de freqüentar as paróquias e servir os Pobres em suas casas.
Outra “inovação” de Santa Luísa de Marillac e São Vicente de Paulo foi que as Filhas da Caridade não fazem votos perpétuos, isto é, até hoje, todos os anos na festa da Anunciação do Senhor, as Irmãs no mundo inteiro renovam seus votos de castidade, pobreza, obediência e serviço aos Pobres por mais um ano.

Segundo eles, isto favoreceria a permanência somente daquelas Irmãs que realmente tivessem vocação, bem como uma constante renovação do amor à vocação e da entrega de vida, esta sim, para toda a vida.

Com o passar do tempo, o serviço das Filhas da Caridade foi se diversificando: além de atender os Pobres em suas casas, trabalhavam em hospitais, fundaram escolas para meninas pobres (Na época os ricos, por sua condição de ricos, eram acostumados a receberem privilégios. Nas escolas fundadas para as crianças pobres, podiam estudar também crianças ricas, no entanto deveriam ser tratadas como as outras, sem qualquer privilégio), orfanatos, asilos, casas para loucos, prisioneiros, etc. A colaboração de Luísa de Marillac foi fundamental para que Vicente de Paulo construísse a rede de caridade que construiu, em que as Irmãs, formadas e acompanhadas por sua Fundadora, estiveram presentes, realizando todo tipo de serviço.

Fundadores morreram no mesmo ano, 1660, Santa Luísa em 15 de março e São Vicente de Paulo em 27 de setembro.

Dois séculos depois, a Companhia que fundaram, recebeu uma enorme bênção de Deus: uma jovem Irmã do Seminário, Catarina Labouré, recebeu de Nossa Senhora a missão de confeccionar e distribuir a Medalha de Nossa Senhora das Graças.
O povo, que a usou com muita fé na intercessão da Mãe de Deus e rezou: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”, passou a chamá-la de Medalha Milagrosa, nome e devoção que continuam até hoje.


Catarina Labouré foi canonizada e seu corpo permanece intacto na Capela das Filhas da Caridade em Paris. Atualmente, a Companhia das Filhas da Caridade está presente em todos os continentes. No Brasil, as Filhas da Caridade estão divididas em 6 Províncias.
Apesar das inúmeras e crescentes dificuldades em manter-se fiéis ao espírito dos Fundadores, as Filhas da Caridade procuram cultivar, através da vida espiritual, da vida comunitária fraterna e de sua missão, o amor e pertença à Companhia que, em nome da Igreja, as envia a construir o Reino que Jesus anunciou no meio de seus preferidos, os Pobres” (Cfr Ir. Carolina Mureb Santos, op. cit).

1.2. O espírito e as convicções das Filhas da Caridade

Segundo as palavras do próprio São Vicente de Paulo, na primeira Regra, “o fim principal pelo qual Deus chamou e reuniu as Filhas da Caridade é para honrar Nosso Senhor Jesus Cristo como fonte e modelo de toda caridade, servindo-o corporal e espiritualmente na pessoa dos Pobres”.
A Regra das Filhas da Caridade é o Cristo, Evangelizador dos Pobres, que se identifica com os pequenos, os mais despojados.


O Mistério da Encarnação está no centro da espiritualidade de São Vicente de Paulo e de Santa Luísa de Marillac, ambos discípulos da escola francesa de espiritualidade.
As Filhas da Caridade dão-se totalmente ao Cristo, seguindo, radicalmente, os conselhos evangélicos. Elas querem ser disponíveis para o serviço de Cristo nos Pobres e a ele se consagram inteiramente nesse mesmo serviço.

1.3. A missão das Filhas da Caridade

De acordo com a vontade de São Vicente de Paulo e de Santa Luísa de Marillac, as Filhas da Caridade são, pois, servas de Jesus Cristo, para todo o serviço corporal e espiritual dos Pobres que lhes forem confiados.


Consagradas em comunidade de vida fraterna para a missão, elas associam serviço e contemplação. Sua relação com Deus deve ser simples e forte, fundada sobre a união a Deus, pelo silêncio, a oração pessoal e comunitária, a vida sacramental, em particular a Eucaristia, e a devoção à Virgem Maria.

Com efeito, a Companhia das Filhas da Caridade sente-se marial desde sua origem. Em 1640, Pe. Vicente de Paulo explica às Filhas da Caridade, o Regulamento que estabelece que “a Companhia é instituída para honrar e servir Jesus Cristo e sua Santa Mãe...”.
Por sua vez, Luísa de Marillac confiou a Companhia nascente a Nossa Senhora de Chartres e motivou as Filhas da Caridade a ter uma grande devoção a Maria, Mãe da Igreja e Mãe da pequena Companhia.


Desde 1830, a Capela da Casa Mãe (Casa-Mãe das Filhas da Caridade em Paris, França, Rua du Bac, 140), onde se deram as Aparições da Virgem a Santa Catarina Labouré, é lugar de peregrinação e de oração marial, muito importante na França.
A atenção aos sinais dos tempos, aos apelos da Igreja e do mundo dos Pobres torna a Companhia das Filhas da Caridade disponível na mobilidade, qualquer que seja o serviço, sob todas as circunstâncias, com a preocupação constante de inculturar o espírito e o carisma de São Vicente de Paulo, isto é, com a vontade de respeitar cada um e de promover a cultura do país.
A Companhia das Filhas da Caridade é missionária desde a sua fundação. São Vicente de Paulo não hesitou em enviar as Filhas da Caridade aos quatro cantos do mundo, fora das fronteiras da França.


As missões se estendem por todos os países e delas são encarregadas as Irmãs Missionárias que trabalham em colaboração com as Igrejas locais e vivem em comunidade de vida fraterna com as Irmãs autóctones, desde que surjam vocações no seio dessas comunidades.
Seguindo a vontade dos Fundadores, nas escolhas a fazer, a prioridade é dada aos excluídos da sociedade.


São Vicente de Paulo ficara impressionado com a miséria dos doentes em suas casas, não tendo dinheiro, nem coragem de ir tratar-se nos hospitais da época, que exigiam, para muitos Pobres, o internamento. Eis a razão pela qual quis que as Filhas da Caridade pudessem ir até eles, procurá-los “em suas próprias casas, sobretudo os mais pobres, os mais abandonados”.
Não obstante, São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac, rapidamente, procuraram atender aos apelos das Damas e dos Administradores que reclamavam as Filhas da Caridade para os hospitais ou outros estabelecimentos da época (Santa Luísa de Marillac, ela mesma, acompanhou a ida das primeiras Filhas da Caridade até Angers, em 1639).


Em qualquer lugar onde ele se exerça, o serviço é sempre definido como corporal e espiritual (Entendemos que, quando São Vicente de Paulo fala do serviço na ordem “corporal e espiritual” se refere à perfeita união entre a “caridade e evangelização”. Praticar a caridade nas suas três dimensões: Caridade como assistência, Caridade como promoção e Caridade como libertação. Depois, a Evangelização: falar do Reino de Deus e das propostas de Jesus Cristo para que todos tenham vida), serviço sob todas as formas, tanto no que diz respeito ao acompanhamento humano quanto no que se refere ao acompanhamento espiritual.

1.4. Formação na Companhia das Filhas da Caridade

Para ser eficaz, adaptado a cada situação, o serviço exige uma formação humana, profissional e espiritual. Ao conhecer as necessidades dos Pobres, e especialmente as de todos os “deixados por conta” do mundo em constantes transformações, a Companhia tem a preocupação de que as Filhas da Caridade adquiram todas as qualificações indispensáveis aos serviços diversificados que devem assumir: formação para a vida de convivência, para o trabalho de grupo e para todas as colaborações necessárias aos diversos serviços; formação sanitária e social; formação para o ensino e a educação; formação catequética e pastoral; formação para vida missionária, pelo estudo da língua e da cultura do país aonde foram enviadas...


Assim, as Filhas da Caridade estão conscientes da necessidade de uma formação inicial e permanente e de constantes atualizações, para serem sempre capazes de “deixar Deus para Deus”. São Vicente de Paulo alertava sobre o perfil das Filhas da Caridade: “serem mulheres totalmente serviçais, competentes e alegres, é um dever de justiça para com nossos senhores e mestres, os Pobres”.

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