Quando a realidade parece ficção é hora de fazer documentário!

FV - Ramos: 10 RSV

CONGREGAÇÃO DOS RELIGIOSOS DE SÃO VICENTE DE PAULO

“A Caridade suscita tudo ao nosso redor; é ela que desperta as pessoas, as impulsiona e as reúne. A Caridade, como uma chama, consome e purifica. Por ela, seremos impregnados, vivificados. Por ela, seremos transfigurados” (Jean-Léon Le Prevost nasceu no dia 10 de agosto de 1803 e faleceu aos 30 de outubro de 1874).
Jean-Léon Le Prevost

1. Origens da Congregação dos Religiosos de São Vicente de Paulo

Numerosos acontecimentos abalam o mundo do século XIX e assim marcam o começo de uma nova época, caracterizada por grandes descobertas cientificas e técnicas que acompanham a revolução industrial, as mudanças sociais e políticas e o surgimento da classe operária. Neste quadro histórico da Europa do século XIX é que se situam as origens dos Religiosos de São Vicente de Paulo.
Em 1827, um jovem intelectual, Jean-Léon Le Prevost, vem estabelecer-se em Paris onde, alguns anos mais tarde, encontrará Antônio Frederico Ozanam e tornar-se-á o oitavo membro da primeira Conferência de São Vicente de Paulo.
Pouco a pouco, ao contato das misérias do seu tempo, redescobre a Deus e amadurece a sua fé; “doravante, confessa ele, quero ser um homem dedicado aos outros, que abre os olhos, que está presente e atuante na vida moderna...”
2. Fundação da Congregação dos Religiosos de São Vicente de Paulo

O Espírito Santo suscita nele a inspiração de fundar uma nova congregação religiosa. Ele escreve: “Parece que falta ao cristianismo a glória de ter espiritualizado e enobrecido a indústria moderna, como tem vivificado e enobrecido o trabalho de todos os tempos”.
No pensamento de Jean-Léon Le Prevost, o novo instituto deveria dedicar-se totalmente às obras de caridade, procurando aliviar os sofrimentos materiais e espirituais dos operários e dos pobres.
Desde o início, vê claramente a vocação de sua congregação: “Servir e evangelizar os Pobres nos parece ser a melhor herança. Como é justo e misericordioso ao mesmo tempo preferir os pequenos e os fracos”.
O projeto de Jean-Léon Le Prevost concretizou-se finalmente, no ano de 1845, com a reunião do próprio Jean-Léon Le Prevost e de Clément Myionnet; em outubro de 1846, acrescenta-se Maurice Maignen. Mais tarde, em dezembro de 1850, o jovem padre Henri Planchat.
Com eles, a família dos Religiosos de São Vicente de Paulo nasceu e tomou sua forma definitiva: irmãos, leigos e padres, reunidos para o serviço dos Pobres. Era realmente algo de novo para a época.
3. Jean-Léon Le Prevost, homem de visão

Jean-Léon Le Prevost é, ao mesmo tempo, um homem prudente e audacioso, atento aos sinais dos tempos e aos desejos da Providência. Nisto procura configurar-se a São Vicente de Paulo, o pai da caridade. Confrontado com numerosas misérias, busca sempre uma resposta adaptada e eficaz para as desgraças que encontra.
Para ajudar as famílias desamparadas, organiza a caixa dos aluguéis, o lar para idosos, a biblioteca popular, o centro dos migrantes, cursos e socorros diversos, a “panela do Pobre”, o serviço de assistência e, sobretudo, a sua obra preferida: a Santa Família, uma obra que reúne regularmente as famílias necessitadas para proporcionar-lhes divertimento e formação.
Preocupa-se também com os órfãos, os aprendizes, os jovens marginalizados. A sua caridade se faz inventiva para solucionar todos os problemas e derrubar todas as barreiras.
Sob o impulso de Jean-Léon Le Prevost, cada fraternidade do Instituto, implantada em bairros de periferia, torna-se uma verdadeira “escola” de caridade e centro de promoção humana.
4. Os Religiosos de São Vicente de Paulo a serviço da classe operária

A Congregação dos Religiosos de São Vicente de Paulo multiplica então as iniciativas a serviço da Igreja e da classe operária.
Maurice Maignen é um ardente defensor dos trabalhadores. Funda os primeiros círculos operários, mantém contatos freqüentes com os líderes do movimento social católico e sua influência no meio deles é grande.
Ele coloca o seu talento de escritor para descrever, em livros e artigos, romances e peças de teatro, a vida do trabalhador e de sua família. Organiza, enfim, famosas peregrinações operárias para Roma e faz parte daqueles que abriram o caminho para a célebre Encíclica Rerum Novarum do papa Leão XIII a respeito da questão operária.
Quanto a Clément Myionnet, bem mereceu ser chamado de “o gigante da caridade”. Consagrou toda a sua vida ao serviço dos órfãos e dos jovens aprendizes. Gostava de visitar os Pobres em suas casas e de levar-lhes, com as palavras de amizade e de conforto, os auxílios materiais de que tanto precisavam.
O que une profundamente esses três homens é o mesmo pensamento, a mesma intuição: “Temos notado, como tantos outros, que Deus parecia querer, no nosso tempo, chamar de volta as pessoas à fé e à vida cristã pela caridade. Observamos que, em todo lugar e em toda parte, existia neste sentido um grande movimento e pensamos que seria entrar no plano de Deus colocarmo-nos no centro desse movimento caritativo para sustentá-lo. Numerosas obras são criadas cada dia para aliviar todas as misérias temporais e espirituais, mas em muitas delas falta o elemento mais essencial: a dedicação absoluta, a consagração total a Deus e aos irmãos. Sem isto, portanto, não há uma só obra que possa firmar-se e subsistir. Aos nossos olhos, achar pessoas generosas e dedicadas, reuni-las em rede para fazer delas um poderoso instrumento nas mãos do Pai das misericórdias, era a base necessária, era a obra das obras. Fizemos os primeiros passos em vista desta nobre tarefa e esperamos que, depois de nós, outras pessoas vão trabalhar na obra de Deus e converter os corações pela caridade”.
Dos três, Jean-Léon Le Prevost é o mais conhecido e o seu pensamento modelou a Congregação. Para ele, duas coisas são importantes: rezar e agir. Ele tem uma imensa confiança no poder da oração: “A oração é o único grande poder do mundo, é a mais nobre e mais alta das obras. Rezemos muito e levantaremos pela oração essas massas corrompidas pelo espírito capitalista da indústria; rezemos ardentemente e reanimaremos as pessoas entorpecidas pela indiferença e absorvidas pelas preocupações da terra”.
A verdadeira oração culmina na ação caritativa. Jean-Léon Le Prevost ainda escreve: “Não basta crer, é preciso que nossa fé se concretize, as obras são necessárias”.
Apesar dos obstáculos, encara a realidade com serenidade e paz, sem desesperar de seu tempo, do seu país, dos seus irmãos. Fortalecido pela graça divina, vê alto e longe: “Se Deus abençoar nossos irmãos, deverão necessariamente, crescendo seu número, prestar-se a todas as obras de misericórdia que lhes serão convenientes”.
Jean-Léon Le Prevost foi ordenado padre em 1860, aos 57 anos de idade, após a morte de sua esposa, de quem vivia separado desde a fundação dos Religiosos de São Vicente de Paulo segundo um acordo entre os dois.
Ele é uma pessoa generosa que a caridade evangélica purifica dia após dia. Se fala tão bem da caridade, é porque ele a vive.
Ele mesmo reconhece que “não se pode fazer o bem às pessoas senão amando-as”. Na doação total encontra sua maior felicidade, pois, conforme diz: “não se é feliz enquanto não se deu a si mesmo por inteiro”.
5. Espiritualidade LePrevociana

Um dos traços essenciais da sua espiritualidade é a confiança absoluta em Deus: “Seguir os passos de Deus, deixar-se conduzir pelo espírito da Providência, caminhar sob a conduta da Sabedoria infinita” é o que procurou sempre ao longo de toda a sua vida e quis que fosse o espírito da Congregação dos Religiosos de São Vicente de Paulo.
Dizia: “Tal é o espírito da nossa família; está fundada na caridade: o coração faz mais do que a cabeça, a confiança mais do que a prudência, o abandono nas mãos de Deus mais do que as reservas da sabedoria humana e da razão natural”.
Por isso queria que cada fraternidade formasse uma verdadeira família unida na caridade para com Deus e para todos os homens. “Está aí a alegria, está aí a vida da nossa pequena família porque realmente todos somos um só”.
Apesar de sua humildade e simplicidade, Jean-Léon Le Prevost não deixa de ser um homem de vanguarda. Funda o primeiro instituto religioso inteiramente consagrado ao apostolado junto à classe operária. Seus Religiosos, sem hábito que os distinga do povo, podem assim freqüentar as oficinas, fábricas, ambientes e bairros muitas vezes hostis ao clero da época.
Une, sobretudo, num mesmo trabalho apostólico, Religiosos leigos e Religiosos padres. Promove a formação de leigos plenamente engajados na pastoral da Igreja e os considera como verdadeiros membros da grande família dos Religiosos de São Vicente de Paulo. “Fazem realmente parte da nossa família os que junto conosco se dedicam de todo o coração e se santificam no serviço dos Pobres”.
O Pe. Jean-Léon Le Prevost morreu no dia 30 de outubro de 1874. Clément Myionnet faleceu em 1886 e Maurice Maignen, quatro anos mais tarde, no mês de dezembro de 1890.
6. A Congregação dos Religiosos de São Vicente de Paulo no mundo

A Congregação dos Religiosos de São Vicente de Paulo já tinha crescido e nas décadas seguintes, apesar de dificuldades internas, ia continuar o seu desenvolvimento.
Da França, onde tinha nascido, ela se implantou primeiro na parte francesa do Canadá, na cidade de Quebec, em 1884.
Passaram os anos e o mundo conheceu grandes transformações. Após a Segunda Guerra Mundial, a humanidade toma consciência das dificuldades e dos desequilíbrios entre os países ricos e países pobres.
João XXIII convida a Igreja para o Concílio Vaticano II em pleno século XX. Por toda parte ecoa o apelo missionário. Os Religiosos de São Vicente de Paulo responderam aos chamados lançados pelas Igrejas dos países mais pobres.
Em 1956, religiosos franceses partem para a África a fim de trabalhar no continente africano. Foram escolhidos os países de Burkina Faso e Costa do Marfim.
Três décadas mais tarde, mais precisamente em 1985, a Província do Canadá funda uma missão no Zaire, atual República Democrática do Congo.

7. Os Religiosos de São Vicente de Paulo no Brasil

Em 1958, a cidade de Marília, no Estado de São Paulo, acolhia os seis primeiros Religiosos canadenses; começava a história da fundação em terra brasileira. Ainda hoje, são poucos, mas o recente despertar vocacional perceptível em toda a Igreja brasileira faz esperar que o exemplo dos Religiosos de São Vicente de Paulo poderá ser imitado por outros jovens num futuro próximo.
Depois de Marília, a Congregação assumiu, em 1966, uma paróquia na Região Episcopal da Lapa, na Arquidiocese de São Paulo, e outras duas, em 1968, nas dioceses de Jundiaí e de Presidente Prudente. Em 1985 foram assumidas as Comunidades de Elisa Maria – Vista Alegre na Região Episcopal Brasilândia.
Em 1983 foi iniciado o trabalho de implantação do carisma do Pe. Le Prevost no Nordeste Brasileiro. A primeira implantação foi em João Pessoa (PB). Em seguida foram fundadas as implantações de Recife (PE) e São Gonçalo do Amarante (RN). E em 1993 a Congregação chegou a Fortaleza (CE).
Em todas essas implantações, adaptando-se às condições de lugar e às circunstâncias de tempo, os Religiosos de São Vicente de Paulo sempre procuraram ser fiéis ao espírito e à missão dos Fundadores. Querem a evangelização e a promoção humana das classes sociais menos privilegiadas da nossa sociedade.
Tomam parte ativa na pastoral de conjunto das Dioceses onde estão implantados, seguindo fielmente as diretrizes das Igrejas Particulares.
A Congregação possui seu grupo feminino: as Irmãs de Maria Reconciliadora. É também uma fundação francesa. Em 1983 vieram as primeiras religiosas para o Brasil. Já são duas as religiosas brasileiras que tomam parte neste carisma. Atualmente elas se encontram na cidade de Marília (S). Está sendo preparada uma fundação na República do Congo Democrático.
Nesta família também ocupam um lugar especial as Conferências de São Vicente de Paulo. Jean-Léon Le Prevost conheceu pessoalmente o Bem-Aventurado Antônio Frederico Ozanam, e Clément Myionnet foi também vicentino antes de ser religioso. Podemos dizer que a Congregação dos Religiosos de São Vicente de Paulo nasceu das Conferências e que sempre se esforçou para manter contatos e relações estreitas com elas.
Seguindo os passos de seus Fundadores, os Religiosos de São Vicente de Paulo querem fazer da Caridade a lei suprema de suas vidas. Vivendo em pequenas fraternidades, eles testemunham diante de todos que Deus é amor.
Sua primeira tarefa é, pois, amar a Deus, amar-se uns aos outros, amar as pessoas com a mesma simplicidade e humildade que caracterizavam o seu patrono São Vicente de Paulo.
Entregam a Deus todo o seu ser pela profissão pública dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência. Assim, são mais disponíveis para o anúncio do Reino de Deus e o serviço da Igreja e da humanidade.
Essas exigências, que vêm do seu batismo e da sua consagração religiosa, querem assumi-las até as últimas conseqüências. Por isso, se unem na vida comunitária. Cada comunidade dos Religiosos de São Vicente de Paulo procura ser ao mesmo tempo uma comunidade de vida onde reinam a amizade e o diálogo, uma comunidade de oração tendo como ápice a celebração eucarística e uma comunidade de apostolado que mantém o entusiasmo de cada um e coordena os esforços de todos num mesmo projeto comum.
Sua parte de herança na vasta missão da Igreja é o imenso campo da miséria humana onde quer que ela se encontre. Em cada pobre, em cada criança, em cada operário, em cada mãe de família, em cada pessoa idosa vêem o rosto do Cristo que considera feito a ele o que fazemos ao menor dentre os nossos irmãos.
São Vicente de Paulo e Jean-Léon Le Prevost não fizeram outra coisa senão essa, enquanto viviam nesta terra. Abriram para nós os caminhos da caridade e nos convidam, ainda hoje, a andar neles.

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