Quando a realidade parece ficção é hora de fazer documentário!

FV - Ramos: 05. ISVPG - SP

IRMÃS DE SÃO VICENTE DE PAULO DE GYSEGEM “SERVAS DOS POBRES”

3.1. Traços biográficos da Fundadora

Elisabeth Marie Eugénie Josèphe de Robiano nasceu em Bruxelas, Bélgica. Era a filha mais velha de Jean Joseph de Robiano e de Jeanne Marie Nor-bertine Josèphe de Limpens.
O sobrenome Robiano aparece na história pela primeira vez, em 776, em Milão, na Lombardia. Durante o reinado de Carlos V, Lancelot III de Robiano, deixou sua pátria pelas províncias belgas, onde se estabeleceu e fixou raízes.
Dos pais, Elizabeth de Robiano herdou uma profunda piedade, amor generoso para com seu povo, a formação de seu espírito e da sua consciência.

Aos 12 anos, Elizabeth de Robiano ficou órfã de pai e assim se tornou o apoio da mãe e dos seus irmãos. De 1786 a 1789, estudou no Colégio das Irmãs Ursulinas em Tournai. Aí, completou seus estudos de História Natural e História da Igreja.

A 14 de maio de 1799, em Malines, casou-se com Charles Pierre, Barão Le Candèle de Gysegem. Desta união nasceram três filhas.
Em pouco tempo, a Caridade de Elizabeth Robiano espalhou-se em toda Gysegem. Os Pobres, os seus prediletos, a chamavam "a boa e benfazeja senhora"; visitava sempre os doentes e os Pobres em suas próprias casas.
Em 1812, o marido de Elizabeth de Robiano, para facilitar os trabalhos da esposa no serviço aos doentes, fundou um hospital para socorrer os Pobres e enfermos e, mais tarde, um lar para idosos desamparados, mas nenhum destes projetos foi avante.

A Elizabeth Robiano, Deus lhe reservava outros caminhos. Sua predileção pela Igreja de Deus e por seus ministros era contagiante.
Sua coragem apostólica não foi feita de ações brilhantes, de bravuras, de audácias peculiares, mas ela inseriu-se numa obra de redenção, num mistério de sofrimento, baseada na renúncia e na ascese. Quando a fé corajosa e forte é traduzida em atos, Deus sempre está presente.

Tinha grande influência nos meios políticos. Ela foi a chave da resistência belga por ocasião da invasão do Rei Guilherme I de Orange, quando a Bélgica foi anexada à Holanda, na formação do reino unido dos Países Baixos.
Embora Elizabeth de Robiano vivesse no seu momento histórico, previu as novas exigências e criou estruturas mais condizentes com o desenrolar dos acontecimentos, apesar de que, naquela época, a mulher estava condicionada por preconceitos sociais.

Ela os rompeu, com surpreendente audácia, e, numa incrível aventura de amor a Deus e ao próximo, lançou-se, abertamente, em defesa dos Pobres e dos abandonados.

De 1828 a 1837, Elizabeth Robiano atravessou um período de luto na famí-lia, aceito com verdadeira resignação cristã. Morreram suas filhas Otávia e Pauli-na, sua mãe e seu esposo, o colaborador discreto e generoso de seu apostolado. A estes sofrimentos, juntaram-se muitos outros, inclusive a perda de toda a sua fortuna e de seus bens.

Elizabeth de Robiano possuía uma personalidade marcante e uma fé pro-funda. Sua correspondência com os parentes, os amigos, os sacerdotes e, sobretudo a Congregação por ela fundada são testemunhas disso.
Elisabeth tinha formação humana e cristã que a fazia ser uma mulher de discernimento e visão de futuro. Quando sentiu que a Congregação crescia e que as Irmãs iam assumindo os trabalhos de supervisão, animação da vida da congregação e dos trabalhos sociais, ela foi se afastando, porém sem interferir e acompanhando as Irmãs em suas orações, preocupações e através de correspondência dando apoio e sendo presença mesmo de longe.
Na medida em que iam surgindo novas formas de pobreza e necessidades da época, ela acompanhava, rezava, mas não interferia. Sempre colocava a Congregação sob a proteção do Bom Deus e de São Vicente de Paulo.

Percebia que, muitas vezes, nem tudo era como queria, mas respeitava e confiava na graça de Deus, mostrando fidelidade à sua vontade, semelhante ao jeito de ser de São Vicente de Paulo, que também acreditava na Divina Providência e na ação de Deus nas pessoas.

As atitudes de Elisabeth Robiano, no final de sua vida, eram as de uma mulher que soube viver os propósitos feitos a Deus, ou seja, foi fiel aos projetos de Deus que tornara seus.

Por ser uma mulher de coragem e visão, logo cedo sentiu que Deus ia lhe pedir mais. Não foi a consagração através da Vida Religiosa, mas sim uma consa-gração de sua vida ao bem da família. Consagrou-se a Deus de maneira muito especial, assumindo sua família de sangue e sua família religiosa com grande preocupação à vida espiritual das Irmãs e a manutenção material em todas as e-tapas. Era assim também que cuidava dos Pobres.

Elisabeth vivia uma mística, ou melhor, um compromisso com Deus de ma-neira particular e muito pessoal: "Viver cada dia como se fosse o último de sua vida".

A Congregação teve de Deus a graça de ter tido como Fundadora essa mu-lher que possuía a experiência de ter sido esposa, mãe e avó, adquirindo uma capacidade de compreender melhor a complexidade da vida e os conflitos internos de uma família.

Elizabeth demonstrou, na prática, espírito de pobreza e desapego; era cora-josa e submissa à vontade de Deus, sensível à situação dos Pobres; soube ler nos acontecimentos a vontade de Deus, sendo criativa em dar respostas às necessidades que se manifestavam.

Em 1840 deixou o Castelo de Gysegem passando a morar em Postel com sua filha Elisa. Morreu em Tervuren, aos 8 de setembro de 1864.

3.2. Fundamentos da Congregação

Conforme foi explicado acima, Elizabeth de Robiano e seu marido tentaram fundar um hospital e um asilo, porque a realidade do Pobre abriu o coração de Elizabeth Robiano, traduzindo-se em gestos.

Naquela ocasião, achava-se como refugiado em casa de Elizabeth Robiano o Bispo de Brouggie. Inspirado por Deus, aconselhou Elizabeth Robiano a abrir uma escola para os Pobres da região. Este raio de luz penetrou no coração de Elizabeth de Robiano. Era o momento de Deus.

Na cidade de Moorslede, Bélgica, conseguiu, através do pároco local e da Irmã Bárbara, duas jovens para dirigir uma escola que acabara de fundar. A 21 de janeiro de 1818 foi fundada a primeira escola, que recebeu o nome de "Casa das Fiandeiras" ou na língua do lugar, "spinhuis". Esta escola se tornou também a primeira Comunidade da Congregação das Irmãs de São Vicente de Paulo de Gysegem "Servas dos Pobres".

Nessa escola nascente as alunas passaram a aprender, juntamente com os princípios de leitura, da escrita e do cálculo, um ensino religioso, e aprendiam a "fiar", de onde o nome "casa das fiandeiras".

Elizabeth de Robiano se preocupava com a promoção das crianças, pois eram muito pobres. Irmã Bárbara que recebera licença para ajudar na escola por um ano acabou ficando em Gysegem, definitivamente. Com o decorrer do tempo, cresceu o número de vocações e de escolas. Novas fundações enriqueceram a Igreja: hospitais, lar para idosos, orfanatos, creches, pensionatos.

Desde o início, a Congregação preocupava-se com a educação de crianças pobres, que não possuíam condições para desenvolver-se na sociedade.
Devido à situação da época, foram surgindo novas necessidades, tanto para crianças, mulheres, quanto para idosos. Surgiu a idéia de se inaugurarem es-colas privadas para auxiliar nos gastos com as obras de Caridade. Houve muitas oposições dos políticos liberais, mas mesmo assim em 1851 em Saint-Pauwels foi aberta uma escola particular, que ajudaria na criação de novas obras, tais como orfanatos, asilos e até mesmo, na construção de uma escola para rendeiras, o que aliviou as crises nas indústrias têxteis.

Portanto, as Servas dos Pobres sempre buscam alguma forma e com criati-vidade um jeito de promover os Pobres. As escolas têm este objetivo, ajudar nos trabalhos promocionais. É o que São Vicente faria hoje: envolver aqueles que têm mais posses para a ajudarem aqueles que não as têm.

Elizabeth de Robiano, ao fundar a Congregação, colocou-a sob a proteção de São Vicente de Paulo e queria que as Irmãs vivessem de acordo com o espírito de São Vicente de Paulo. Tanto é que as primeiras Constituições foram baseadas nas Regras das Filhas da Caridade. Quem ajudou Elizabeth na elaboração das primeiras Constituições foi o Padre Vicente Lemaitre, jesuíta. Elizabeth de Robiano fundou a Congregação, mas nunca foi religiosa.

3.3. Carisma fundacional da Congregação

As Irmãs de São Vicente de Paulo de Gysegem "Servas dos Pobres", Deus as chamou para continuar na sua Igreja a obra da salvação de Cristo, perpetuando no mundo da humanidade de hoje esta página do Evangelho: "Naquela ocasião, Jesus havia curado a muitos de suas doenças, moléstias e espíritos malignos e proporcionando a vista a muitos cegos. Os cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são purificados e surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos Pobres se anuncia a Boa Nova".
Este mistério de Cristo, enviado aos Pobres para lhes manifestar o amor de Deus Trinitário, as Irmãs de São Vicente de Paulo de Gysegem o tornam presente por uma forma de vida reconhecida e aprovada pela Igreja, forma de vida que o expressa e prolonga. Possuem a consciência do que recebem e vivem e, por isso reconhecem este Dom do Espírito dado à Congregação, a serviço da Igreja desde sua fundação .

3.4. Espírito da Congregação

O espírito da Congregação - Humildade, Caridade, Simplicidade, - foi colo-cado pela fundadora, sob o patrocínio de São Vicente de Paulo.
Elizabeth de Robiano recomendou às primeiras Irmãs: "fazer tudo com hu-mildade, simplicidade e caridade, estas três virtudes devem ser a marca distintiva, o espírito próprio das Irmãs de Gysegem ".

3.5. Objetivo da Congregação

As Irmãs de São Vicente de Paulo são chamadas por Deus para louvar a Jesus Cristo como fonte e modelo de toda a Caridade, servindo-o corporal e espiritualmente, na pessoa dos Pobres. "É aos Pobres que precisamos devolver o amor com o qual Deus nos ama” . A Constituição atual diz: "Nossa herança são os Pobres! Que felicidade! Fazer o que o Filho de Deus veio fazer no mundo!” .
A Congregação das Irmãs de São Vicente de Paulo de Gysegem Servas dos Pobres é um instituto apostólico por vocação, foi fundado para o "serviço dos Pobres". As Irmãs são consagradas e enviadas para servi-los espiritual e corporalmente. Há também grande preocupação em "preferir o serviço dos Pobres a todas as coisas” .

3.6. Missão e Evangelização

A identidade das Irmãs de São Vicente de Paulo de Gysegem não é outra, senão a identidade de Cristo. As Irmãs devem ser como ele, porque, por vocação, são chamadas a serem continuadoras da missão de Jesus Cristo.
Como membros do Corpo Místico, encarnam a Igreja, desejosas de se entregar à radicalidade das Bem-Aventuranças . Na vida, seus membros são um sinal de disponibilidade para Deus, para a Igreja, para os irmãos. Testemunham ao mundo o valor da oração como alma de todo o apostolado e fonte de inspiração para a vida missionária.
Quando Cristo se apresentou ao seu povo na sinagoga de Nazaré, ele mesmo ligou a idéia de missão à evangelização: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu e enviou-me para evangelizar os Pobres”.

3.7. As Missões

Quando o Papa Leão XIII, com seu espírito de apóstolo de Roma, tomou conhecimento dos males que flagelavam toda a humanidade e fez ressoar sua voz insistente, suscitando religiosos para evangelizar o mundo com os ensinamentos da doutrina cristã, sua voz de Pastor da Igreja universal também foi ouvida na Bélgica.

Em maio de 1896, sete Irmãs belgas partiram para o Brasil e se instalaram como missionárias em Olinda. Essas missionárias participaram intensamente da vida do povo pernambucano.

Em 1930, mais um grupo de Irmãs belgas rumou para o Congo, África, com o mesmo objetivo de atender os pobres e necessitados. No ano de 1980, a província do Brasil enviou duas Irmãs brasileiras para ajudar nos trabalhos missionários no Congo.

Em 1987, começou a missão no norte de Camarões; em 1995 foram para a Argentina, periferia de Buenos Aires; em 1996, para o Paraguai; por último Uruguai, em 1998.

3.8. As Irmãs Vicentinas no Brasil

Depois de Olinda, as Irmãs Vicentinas, em 1898, foram convidadas por Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque para virem para São Paulo, Capital, para cuidarem de crianças órfãs no educandário da Casa Pia de São Vicente de Paulo.

Esta obra teve um surto surpreendente. Afluíram muitas vocações e as Ir-mãs foram chamadas para trabalharem junto aos mais Pobres não só em São Paulo, mas também no interior de São Paulo e em outros Estados.
Atualmente as Irmãs Vicentinas no Brasil formam duas Províncias. Sudeste: comunidades distribuídas pelos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Sergipe, Alagoas, Bahia, na Argentina, e no Uruguai; e Província Centro-Oeste: Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Paraguai.
Atentas às necessidades dos tempos, a exemplo de sua Fundadora, as Vi-centinas têm suas comunidades abertas a todos os que, de uma ou outra forma, delas necessitem.

Na medida do possível a Congregação, célula da Igreja, procura dinamizar o carisma de seus membros dentro do espírito próprio de Humildade, Simplicidade e Caridade, através de uma pastoral bem diversificada: nas escolas, nos lares para crianças, nos lares para idosos, nas paróquias, nos hospitais, no serviço social, enfim onde houver um necessitado, lá estará uma Vicentina atendendo.

Atualmente as Irmãs possuem as seguintes obras:

1. Colégios: Colégio Nossa Senhora da Penha, São Paulo; Colégio Santo Antônio de Lisboa no Tatuapé, São Paulo; Colégio João e Raphaela Passalacqua, no bairro Bela Vista, São Paulo; Colégios São Vicente de Paulo e Francisco Telles, em Jundiaí.
Além desses trabalhos, as Irmãs se dedicam ao ensino em Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul. Neste segmento, na área da educação, há um grande esforço de fazer a caminhada da "educação libertadora" com pais, professores, alunos e funcionários.

2. Educandários: As Irmãs trabalham junto às crianças e adolescentes e suas famílias no Estado de São Paulo: na Capital, em Pindamonhangaba, Laranjal Paulista, Jundiaí.
No Estado de Sergipe: Aquidabã, Canindé de São Francisco; e Rio de Ja-neiro, na Capital. No Distrito Federal, na periferia.
Neste campo, já existe uma boa caminhada e um grande entrosamento com a Pastoral do Menor, a fim de que o objetivo da formação global da criança possa acontecer.

3. Lares para idosos: As Irmãs de São Vicente de Paulo de Gysegem "Servas dos Pobres" trabalham na promoção do idoso em Jundiaí e Dois Córregos. Nesse campo também há um esforço em devolver ao idoso a sua dignidade humana.

4. Paróquias: Na pastoral paroquial as Irmãs desenvolvem seu trabalho conforme as necessidades locais. Trabalham junto aos jovens e às famílias e na formação de agentes de pastorais.

5. No campo da saúde, dedicam-se à prevenção, nos diversos trabalhos de inserção junto às populações mais carentes. Colaboram também na administração do Amparo Maternal, instituição pertencente à Arquidiocese de São Paulo e que tem por objetivo atender e acompanhar o período de gravidez, parto e pós-parto de mulheres carentes, muitas delas desprezadas pelos próprios familiares. Na Província Centro-Oeste, além da prevenção das doenças através de conscientização e palestras para as pessoas carentes que são realizadas por Irmãs que trabalham nesse meio, há também o trabalho em Postos de Saúde.

6. Serviço Social é uma constante e serviço que abrange todas as áreas em que atendem e, conforme os apelos da sociedade, procuram ajudar nas ações que fazem parte do carisma da Congregação.

Um comentário:

Anônimo disse...

Me emocionei muito ao ler sobre Elizabeth, muito mais ainda por manter em meu poder um livro sobre o padre Pro editado no ano de 1.933, que pertenceu à BIBLIOTECA "ELIZABETH ROBIANO", que eu nem conhecia.
Onde será que se estabelecia essa biblioteca?
Prazer e parabéns pelo blog!